entanto, as funções executivas podem ser afetadas não apenas por lesões frontais, mas também por lesões em outras partes do cérebro, como sejam alterações nas estruturas do sistema límbico (e.g. por abuso de substâncias tóxicas como cocaína), lesões no hemisfério direito, ou por síndromes/doenças como a síndrome de Korsakoff, a doença de Parkinson, perturbação depressiva, entre outras, podendo-se encontrar uma correlação entre disfunções noutras áreas cerebrais do paciente e as dificuldades verificadas num ou mais componentes das funções executivas (Ferreira & Colognese, 2014; Lezak et al, 2004; Nunes, Monteiro & Lopes, 2014). Hamdan & Pereira (2009) referem que as funções executivas englobam diversas funções cognitivas em diversos quadros patológicos, pelo que se torna impossível avaliar com apenas uma prova neuropsicológica.
No que concerne à síndrome de Korsakoff, esta resulta frequentemente de consumos de bebidas alcoólicas excessivos e prolongados no tempo, afetando especialmente a memória para eventos recentes, as funções executivas, controlo cognitivo e o processamento emocional (Brion, Pitel, Beaunieux & Maurage, 2014). Isto significa que esta síndrome leva a disfunções neurocomportamentais e as áreas cerebrais associadas aos seus efeitos danosos remetem para as estruturas diencefálicas e límbicas, áreas corticais, matéria cerebelar branca e cinzenta e circuitos cerebelares fronto-cortico-estriados (Oscar-Berman, 2012). Ao afetar as funções executivas, torna-se ainda mais difícil alterar os comportamentos de consumo, o que forma uma espiral de deterioração (Maharasingam, Macniven & Mason, 2013).
Passando à doença de Parkinson, esta é uma perturbação neurodegenerativa, perante a qual há uma degeneração dos neurónios dopaminérgicos na substância nigra, e consequentemente leva a uma redução drástica da dopamina nos gânglios da base (Kish, Shannak & Hornykiewicz, 1988, cit in Dirnberger & Jahanshahi, 2013). Ao nível motor, é então caracterizada por aquinesia, rigidez, tremores e instabilidade postural (Sammer, Reuter, Hullmann, Kaps & Vaitl, 2006). De acordo com Leroi et al (2013), o desenrolar das disfunções cognitivas dá-se devido uma interação entre o défice cognitivo, a resposta impulsiva e o estado dopaminérgico. Como tal, nos estádios iniciais desta doença estão patentes disfunções executivas, como é o caso dos défices no controlo da atenção, planificação, controlo inibitório, tarefas de tomada de decisão e de cognição social, sendo que nos estádios finais surgem os défices cognitivos e demência (Dirnberger & Jahanshahi, 2013).
Quanto a outros tipos de doenças ou condições médicas, Wagner, Alloy e Abramson (2015) referem que a literatura tem demonstrado uma ligação entre a depressão e défices nas funções executivas em adultos. Na perturbação depressiva major, Paelecke-Habermann, Pohl e Leplow (2005) averiguaram no seu estudo que os pacientes eutímicos mostravam défices em todos os testes relacionados com atenção e funções executivas, e que quando maior a severidade da depressão, maior seria a disfunção executiva. Tal como se pode verificar, as disfunções executivas são comuns na depressão geriátrica e incluem respostas de perseveração, perturbações na iniciação do comportamento e na inibição de respostas inapropriadas (Lockwood et al, 2002 e Nebes et al, 2003, cit in Alexopoulos, Kiosses, Heo, Murphy, Shanmugham & Gunning-Dixon, 2005). Inclusivamente após AVC’s, surgem também prejuízos ao nível das funções executivas, como sugerem os estudos levados a cabo por Pohjasvaara et al (2002), Vataja et al (2003), Zinn, Bosworth, Hoenig e Swartzwelder (2007), Gottesman e Hillis (2010), entre outros.
Em suma, constata-se que as disfunções executivas estão associadas a um conjunto de perturbações, mais concretamente as que resultam em patologia estrutural ou funcional na área frontal e nos gânglios da base (Elliott, 2003).
3.3. Instrumentos de avaliação neuropsicológica das funções executivas
Ao nível da avaliação das funções executivas, destacam-se a partir de Peña-Casanova, Fombuena e Fullà (2005) os seguintes instrumentos: Wisconsin Card Sorting Test (WCST), Tower of London, The Executive Control Battery e Behavioural Assessment of the Dysexecutive Syndrome (BADS). Tabela 2
Outros testes empregues podem ser o Trail Making Test, Teste de Raven, Go-No go, Stroop, Behavioral Assessment of Dyssecutive Sistem (Hamdan & Pereira, 2009).
Designação do teste – Objetivos
WCST – Avaliação das funções executivas, em especial a flexibilidade mental.
Tower of London – Avaliação da capacidade de planificação executiva.
The Executive Control Battery – Avaliação qualitativa e quantitativa detalhada da presença e extensão da perturbação no lobo frontal ou da alteração do controlo executivo.
BADS – Avaliação da síndrome disexecutiva.
Tabela 2. Instrumentos de avaliação de funções executivas. Adaptado de Peña-Casanova, Fombuena & Fullà (2005).
Podem ainda encontrar-se, mais especificamente no contexto português, testes de fluência verbal semântica e fonémica para avaliação das funções executivas em baterias como a BANC – Bateria de Avaliação Neuropsicológica de Coimbra (Simões et al, 2012, cit in Moura, Simões & Pereira, 2013), testes de rastreio como a adaptação portuguesa do Addenbrooke Cognitive Examination-Revised (Firmino, Simões, Pinho, Cerejeira & Martins, 2008, cit in Moura, Simões & Pereira, 2013) e a adaptação portuguesa do MoCa – Montreal Cognitive Assessment (Freitas, Simões, Martins, Vilar & Santana, 2010, cit in Moura, Simões & Pereira, 2013).
Relativamente à BANC, esta avalia os domínios da linguagem, motricidade, memória, atenção e funções executivas, e foi elaborada especificamente para aplicação em crianças (Simões et al, 2008, cit in Albuquerque, Simões & Martins, 2011). O Addenbrooke Cognitive Examination compreende os domínios de atenção/orientação, linguagem, memória, competências visuo-espaciais e funções executivas, incluindo também o Mini Mental State Examination, pelo que é aplicado a população