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Neurociências, Psicofisiologia e Actividade Humana

das características psicológicas no aumento da pressão arterial, tendo para isso analisado a reactividade cardiovascular a efeitos psicológicos como o stress. Para tal, oitenta hipertensos responderam ao Inventário de Sintomas de Stress de Lipp, à Escala de Alexitimia de Toronto e ao Questionário de Assertividade, e foram sujeitos a uma sessão experimental contendo experiências sociais estressantes. A pressão arterial e a frequência cardíaca foram mensuradas continuamente por um monitor de pressão arterial e o sujeito instruído, ora a controlar as suas emoções ora a expressá-las, dependendo das manipulações experimentais que estavam a ser criadas. Como grandes resultados os autores verificaram correlações elevadas entre níveis de alexitimia e de inassertividade e reactividade da pressão arterial. Assim, quando solicitados a expressarem emoções, a pressão arterial diastólica dos sujeitos alexitímicos e inassertivos sofria aumentos significativos enquanto a pressão arterial sistólica de pessoas assertivas e não alexitímicas sofria aumentos significativos quando instruídas a inibirem as emoções.

Para que se tenha uma percepção mais simplificada destes tópicos aqui abordados, pode-se apontar o cérebro reptiliano como as estruturas cerebrais mais arcaicas do ponto de vista do desenvolvimento filogenético (a evolução das espécies ao longo dos milhões de anos até chegarmos à nossa era).

No cérebro reptilliano tem que se considerar a importância do Sistema Límbico, fortemente relacionado com emoções básicas como o medo, a ira, a raiva, o prazer, etc. (Adolphs, Tranel, Damásio & Damásio, 1995).

A importância do neocórtex e dos seus estudos foi determinante para compreender aspectos tão importantes para a vida humana como sejam os mecanismos de memória e aprendizagem, seja ela vista do ponto de vista mais formal de aprendizagem de conteúdos complexos (por exemplo, o conteúdo de uma determinada disciplina como seja a Biologia) seja a aprendizagem básica ao nível das respostas condicionadas. Hoje acredita-se que na base deste último processo Pavloniano está um mecanismo fisiológico, denominado de habituação. De acordo com vários autores tal fenómeno caracteriza-se como o decréscimo de uma resposta a um estímulo apresentado de forma repetida, sendo sobejamente documentado ao longo da história da ciência fisiológica (Sokolov, 1963; Siddle, 1991). Tais estudos sustentam que a resposta inicial a um estímulo novo envolve uma rápida mudança atencional do organismo, todavia, depois de uma apresentação repetida dos mesmos estímulos novos, sem que sejam seguidos de consequências relevantes, a resposta tenderá a esvanecer-se, caracterizando-se um dos principais papéis da habituação que é a limitação da utilização dos recursos atencionais a estímulos que já não se encontram disponíveis para o organismo.

Acredita-se de forma generalizada que o neocórtex cerebral esteja envolvido na aprendizagem e na memória. Em contrapartida existe por vezes ainda a visão tradicional que a aprendizagem e a memória envolvem o denominado córtex associativo, apesar de saber-se desde há pelo menos cinquenta anos que essas respostas do córtex sensorial primário aos estímulos condicionados são alteradas pela aprendizagem (Chernyshev & Weinberger, 1998). Ainda que estudado mais extensivamente no córtex auditivo primário, acredita-se que os processos associativos alteram as respostas acústicas aos estímulos condicionados, verificado em estudos de potenciais evocados (avaliação dos campos neuronais eléctricos – Weinberger & Diamond, 1987). Já mais recentemente Chernyshev & Weinberger (1998) referem que a natureza de tais respostas de plasticidade neuronal tem sido esclarecidas pela determinação das respostas cerebrais depois de determinados períodos de treino (e aprendizagem).

A aprendizagem altera o valor dos sinais dos estímulos sensoriais, sendo que nas situações mais estudadas, de Condicionamento Clássico (Pavloviano), um estímulo condicionado acústico que precede um estímulo neutro (não condicionado) produz uma aquisição rápida (dentro dos 5 a 10 ensaios) de respostas autonómicas e somáticas condicionadas. De forma mais vagarosa (por exemplo, no decurso de 60 a 200 ensaios) verifica-se também alteração das respostas sensoriomotoras específicas (Bakin, Lepan & Weinberger, 1992). Assim, a rápida aprendizagem / interiorização de uma resposta condicionada pode contribuir para um estado central de medo adquirido enquanto uma aprendizagem (condicionamento) mais morosa pode ser responsável pelo desenvolvimento de respostas sensoriomotoras que pretendem evitar ou remover o estímulo neutro.

De acordo com Nicolelis, Fanselow & Ghazanfar (1997) embora o livro clássico de Donal Hebb, The Organization of Behavior (1949), seja sobejamente conhecido pela descrição da plasticidade sináptica (a denominada sinapse de Hebb), este contém ainda um dos pressupostos mais influentes no que concerne aos pressupostos de interacção neuronal que estão subjacentes aos mecanismos cerebrais.

Nas suas teorias é central o conceito de “Engrama Cerebral”, ou seja, um conjunto difuso de células, que formam redes cerebrais, desde o córtex até ao diencéfalo que actuam de forma estruturada num sistema fechado, mas ao mesmo tempo possibilitando o funcionamento e facilitação de um conjunto variado de outros sistemas (p. xix). Na sua perspectiva, os neurónios individuais não apresentavam a capacidade de grande influência individual e, em consequência, não poderiam, por si próprios, contribuir isoladamente para uma dada função, percepção ou habilidade humana. Mais ainda, segundo os autores, Hebb sugeria que cada neurónio individual poderia fazer parte de vários engramas corticais, ou seja, poderia fazer parte integrante de várias redes de funcionamento cerebral e assim estar envolvido em funções cerebrais diferenciadas através de múltiplas funções e representações, muito embora a importância das populações neuronais no processamento da informação sensoriomotora houvesse já sido evidenciada anteriormente (Young, 1802; Sherrington,1906); assim sendo, o trabalho de Hebb constituiu-se como um marco de referência uma vez que apresentou uma descrição pormenorizada e elaborada a cerca de como os mecanismos pelos quais as populações de neurónios poderiam estar subjacentes a uma variedade de funções cerebrais.

A maioria do que era sabido em termos de neurónios corticais e dos seus circuitos baseava-se em imagens estáticas de neurónios fixados em sais de prata de acordo com a técnica de Golgi, embora a doutrina neuronal tivesse sofrido um revés (neste caso, uma evolução) através das evidências conclusivas de S.R. y Cajal, em que se defendia que um neurónio era uma parte funcional de uma rede microscópica, apenas possível de descortinar completamente com o desenvolvimento do microscópio electrónico (década de 1950 a 1960 – Sejnowski, 1999).

Na introdução do seu livro