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Neuropsicologia: Estado actual

o cérebro era a estrutura que era responsável pela razão ( Kolb & Whishaw, 1986 cit in Toni, Romanelli & Salvo, 2005).

A teoria apelidada de “Alma Partida” foi substituída pela Teoria Ventricular que defendia que os ventrículos eram considerados como a sede dos humores. Um dos principais percursores desta teoria foi Galeno, baseada na perceção de que os músculos moviam-se em função da circulação do líquido encéfalo-raquidiano (Toni, Romanelli & Salvo, 2005).

No século XVI, Vesalius deitou a baixo a teoria apresentada anteriormente ao defender que a dimensão do espaço ventricular do ser humano era semelhante à estrutura do mesmo nos primatas, portanto, demonstrou que os sentidos não podiam estar nos ventrículos (Toni, Romanelli & Salvo, 2005).

Já no século XVII, Descartes defendeu que a glândula pineal (Mäder, 1996), conhecida nos dias de hoje por epífise, situada na região superior do diencéfalo e sobre os colículos superiores do mesencéfalo, era a estrutura responsável pelo armazenamento da alma (Toni, Romanelli & Salvo, 2005). Descartes para justificar a sua teoria argumentou que a glândula pineal proporcionava a conexão entre o corpo e a alma, por se encontrar próxima dos ventrículos (Toni, Romanelli & Salvo, 2005).

De acordo com Mäder (1996), a relação entre as funções cerebrais e o comportamento sofreu uma evolução importante no século que se seguiu com a criação da cranioscopia que foi elaborada por Gall (cit. in Toni, Romanelli & Salvo, 2005).

Sendo assim, os avanços que ocorreram durante o século XVIII proporcionaram a Teoria Localizacionista, onde se encontra a ideia de que o cérebro funciona de forma fragmentada. Logo, cada região cerebral é responsável por uma função que é específica do organismo, da mente e até do comportamento (Toni, Romanelli & Salvo, 2005).

É importante salientar que a perspetiva de Gall distinguiu-se completamente do pensamento dualista que era vigente, que separava totalmente a biologia da mente. Portanto sustentou que o cérebro era composto por muitas estruturas cerebrais especializadas em termos de funções, ou seja, em formas de atividade mental (Toni, Romanelli & Salvo, 2005).

Enquanto a perspetiva Holista considerava o cérebro como o substrato da conduta, sendo deste modo, responsável por todo o comportamento, a Teoria Localizacionista defendia a especificidade das diversas áreas cerebrais. Assim, Paul Broca concedeu um dos maiores contributos para a Neuropsicologia, ao indicar a área específica associada à pré-programação da fala. Esta ficou designada por Área de Broca, localiza-se no terço posterior do giro frontal temporal esquerdo e desempenha um papel fundamental no processamento ou produção da linguagem falada (Pinheiro, 2005).

Além do contributo de Broca referido anteriormente, ele também argumentou que o hemisfério esquerdo comandava a linguagem a partir da seguinte citação “nous parlons avec l´hémisphère gaush” (Walsh, 1994 cit. in Pinheiro, 2005).

Wernicke, em 1874, associou uma área cerebral especifica à compreensão do próprio discurso da pessoa e dos discursos de quem comunica com ele. A Área de Wernicke situa-se no terço posterior do giro temporal superior esquerdo e é responsável pelo conhecimento, interpretação e associação de informações (Lent, 2001 cit. in Pinheiro, 2005). Estes estudos fizeram com que houvesse a realização de uma profunda investigação que se baseava na conceção de que formas complexas de atividade mental eram estimuladas por áreas cerebrais especificas.

No meio do século XIX, Camillo Golgi e Santiago Ramón y Cajal analisaram o tecido neuronal detalhadamente, sendo que Ramon y Cajal utilizou uma técnica de coloração histológica, desenvolvida pelo Golgi. No entanto, ambos chegaram a conclusões muito diferentes, uma vez que o primeiro solicitou que o cérebro poderia ser tratado com uma solução de cromato de prata, e que o tecido nervoso era um retículo contínuo, composto por inúmeras células nervosas interligadas, enquanto Ramon y Cajal concluiu que o Sistema Nervoso era constituído por neurónios distintos e polarizados que comunicam entre si através de ligações cerebrais designadas Sinapses (Pinheiro, 2005).

Estas hipóteses conservaram-se por várias décadas e só foram ultrapassadas pelo surgimento do microscópico e de outras técnicas de registo de sinais elétricos dos neurónios (Lent, 2001 cit. in Pinheiro, 2005).

Por sua vez, Luria também foi um autor que contribuiu muito para a evolução da Neuropsicologia enquanto ciência, pois optou por investigar a relação que existe entre as funções mentais superiores e os mecanismos cerebrais. Também foi ele que fortaleceu a ideia de que o Sistema Nervoso funciona como um todo e que o meio ambiente é muito importante para a conduta humana. Para Luria, estas funções psíquicas são o resultado da evolução constante e possuem uma estrutura que é muito complexa, sendo constantemente sujeita a modificações (Pinheiro, 2005).

De acordo com Luria “toda a actividade mental humana é um sistema funcional complexo, efectuado por meio de uma combinação de estruturas cerebrais, funcionando em concreto e cada uma destas, dão a sua contribuição particular para o sistema funcional como um todo” (Luria, 1981, p.23, cit. in Pinheiro, 2005).

Segundo Pinheiro (2005), o cérebro luriano era constituído por três unidades funcionais básicas e cada uma delas presenteia um pequeno contributo para toda e qualquer atividade mental. Cada uma delas expõe uma estrutura hierarquizada, a qual é formada por pelo menos três zonas corticais construídas umas sobre as outras. Relativamente às propriedades funcionais da primeira unidade básica, ela é responsável pela regulação do córtex cerebral; a segunda tem a função de receber, analisar e armazenar informação e integra as regiões visuais (do lobo occipital), as auditivas (do lobo temporal) e as sensoriais (do lobo parietal) e ainda o córtex cerebral. Por último, a terceira unidade funcional é responsável pela preparação de programas de conduta, respondendo à sua realização e controlo da sua execução (referente às regiões anteriores, frontais ou pré-frontais).

A partir da segunda metade do século XX, a Neuropsicologia