motivos. Em primeiro lugar, podem apresentar lesões em áreas cerebrais que não são de interesse para o estudo planeado, em segundo lugar podem apresentar complicações de outras patologias que podem atuar como variáveis estranhas e que portanto se excluem do projeto e por último, podem ter características demográficas amostrais em relação à idade, sexo, níveis académicos, entre outros que permitam a sua inclusão pela necessidade de controlar as variáveis. Pode-se deduzir facilmente que só a partir de um grande número de pacientes é possível selecionar amostras de estudo com critérios exigentes para levar a cabo uma investigação neuropsicológica.
Román (2004, cit. in Maia, 2007) refere que a neuropsicologia está a desdobrar-se em várias linhas de investigação e intervenção, como a neuropsicologia clinica, cognitiva, desenvolvimental, experimental, entre outras; cada uma com um corpo central de origem. O mesmo pode referir-se em relação aos modelos de avaliação e de intervenção reabilitativa ou até mesmo de estimulação cognitiva.
Avaliação neuropsicológica
A avaliação neuropsicológica consente o estudo aprofundado de várias funções cognitivas emocionais e comportamentais. Nesta linha, recorre-se a uma diversidade de testes e procedimentos estandardizados e com o intuito de delinear um diagnóstico, investigar ou apoiar o planeamento do processo de reabilitação. Assim sendo, a avaliação neuropsicológica é um componente essencial no diagnóstico e tratamento. Sendo a avaliação neuropsicológica um processo no qual se recorre ao uso de testes estandardizados com a intenção de aceder a determinados processos psicológicos (constructos) como, por exemplo, a memória, a atenção, a concentração, as funções executivas, entre outros (Maia, 2007).
Este tipo de avaliação é considerada uma avaliação compreensiva composta por uma vasta série de processos (comportamentais, adaptativos e emocionais) que reflete a normalidade ou anormalidade do funcionamento cerebral (Maia, 2007).
De acordo com Maia (2007), há alguns anos atrás, a avaliação neuropsicológica centrava-se quase unicamente na identificação e localização de lesões cerebrais focais. Contudo, Luria veio contestar estas conceptualizações localizacionistas bem como as equipotencialistas defendendo que qualquer reportório comportamental é resultado da interdependência entre várias regiões cerebrais, propondo desta forma o conceito de pluripotencialidade.
Atualmente, a avaliação neuropsicológica fundamenta-se na localização dinâmica de funções tendo como objetivo a investigação das funções corticais superiores como por exemplo a atenção e a linguagem (Maia, 2007).
A avaliação neuropsicológica é recomendada em qualquer caso onde exista suspeita de uma dificuldade cognitiva ou comportamental de origem neurológica, dado que pode auxiliar no diagnóstico e tratamento de diversas patologias neurológicas, problemas de desenvolvimento infantil, comprometimentos psiquiátricos, alterações de comportamento entre outros (Maia, 2007).
Torna-se fundamental referir a importância e a aplicabilidade deste tipo de avaliação no contexto infantil, na medida em que, a contribuição deste exame na criança é extensiva ao processo de ensino – aprendizagem, pois permite-nos estabelecer algumas relações entre as funções mentais superiores e a aprendizagem simbólica (Maia, 2007).
Em suma, autores como Bergquist & Malec mencionam que a avaliação neuropsicológica tem um passado relativamente recente, no entanto, é importante na medida em que tem demonstrado um papel fundamental como método de diagnóstico na identificação de lesões ou alterações cerebrais. Outros autores reforçam esta ideia salientando que este tipo de avaliação desempenha um papel fulcral não só na formulação do diagnóstico como também em toda a intervenção terapêutica específica para cada subtipo de manifestações clinicas (Maia, 2007).
Reabilitação neuropsicológica
A reabilitação neuropsicológica caracteriza-se por se tratar de um processo ativo, cujo objetivo é capacitar as pessoas portadoras de défices cognitivos causados por lesão ou doença, para que estas possam obter um bom nível de funcionamento social, físico e psíquico (Maia, 2007).
Nesta linha de pensamento, a reabilitação procura maximizar as funções cognitivas através do bem-estar psicológico, da funcionalidade na realização das atividades da vida diária (AVD’s) e do relacionamento social. Procura ainda a diminuição dos défices que implicam afastamento e isolamento social, dependência e discriminação (Ávila, 2003 cit. in Maia, 2007).
A reabilitação neuropsicológica trata-se de um tratamento biopsicossocial que atinge os pacientes e os seus familiares tendo em consideração as alterações físicas e cognitivas dos pacientes, o ambiente em que vivem, os fatores subjetivos, entre outros (Ávila & Miotto, 2002 cit. in Maia, 2007).
O fundamento científico da reabilitação assenta na plasticidade neuronal, sendo esta uma capacidade do cérebro de regeneração e adaptação da sua morfologia. Desta forma, o conhecimento dos mecanismos de plasticidade sináptica e de recuperação funcional direciona a formulação dos princípios básicos e modelos de reabilitação, ao passo que, o conhecimento dos fatores de prognósticos permite a sua aplicação racional. Partindo do conhecimento dos mecanismos de recuperação funcional após lesões cerebrais, Zangwill definiu os três princípios (ainda válidos) da reabilitação neuropsicológica: restituição, substituição e compensação (Hasse & Lacerda, 2003 cit. in Maia, 2007).
A substituição funcional relaciona-se com o princípio de Kennard, que sugere que, quanto mais precoce for a lesão maior será a probabilidade de recuperação funcional. O princípio de substituição comportamental ou funcional consiste em executar o mesmo comportamento recorrendo a outros meios (garra para apanhar objetos a que o paciente não chega muito bem, por exemplo). A restituição funcional após lesões cerebrais é possível quando estas lesões são parciais ou circunscritas; as tentativas de restituição funcional baseiam-se na prescrição de treinos funcionais específicos com vários graus de complexidade (Hasse