& Lacerda, 2003 cit. in Maia, 2007).
Um dos preconizadores do desenvolvimento de compensações sob a forma de uma reorganização funcional foi Luria (1973), que desenvolveu o princípio de análise de sistemas funcionais. Este autor afirmava que cada comportamento ou atividade mental complexa pressupõe a organização de um sistema funcional integrando várias áreas em diversos níveis do neuro eixo; e cada parte deste sistema funcional complexo desempenha uma função específica. Assim sendo, através de uma análise de uma síndrome complexo nos seus componentes funcionais possibilita a identificação do componente ou elemento afetado, direcionando então o planeamento dos exercícios de reabilitação (Maia, 2007).
O desenvolvimento de programas neuropsicológicos foca-se numa reabilitação cognitiva; a natureza e a severidade do “handicaps” cognitivo não dependem apenas da extensão e natureza da lesão cerebral ou deficiência orgânica, também é determinado pelas características da personalidade, pelas reações psicológicas do paciente, pelo ambiente do paciente e por fim pelas suas próprias expectativas (Maia, 2007).
Posto isto, a reabilitação cognitiva nunca é simples daí a necessidade de ensinar ao paciente, familiares e/ou cuidadores estratégias para lidar de forma eficaz com as suas dificuldades cognitivas no seu dia-a-dia (estratégias compensatórias) e organização para a produção de respostas, propiciando melhorias nas relações das funções cognitivas (Maia, 2007).
Conforme Haase & Lacerda (2003, cit. in Maia, 2007), algumas estratégias de compensação são desenvolvidas de forma natural por parte do paciente ou da sua família, podendo ser aperfeiçoadas partindo de sugestões do terapeuta. Frequentemente, o uso de compensações impõe um treino muito intenso bem como uma boa capacidade de disciplina e planeamento por parte do paciente e da sua família. Um pré-requisito crucial para a implementação de compensações é a capacidade de insight sobre a própria incapacidade.
Em jeito de conclusão e de acordo com Sohlberg & Mateer (1989, cit. in Maia, 2007), existem alguns princípios gerais da reabilitação cognitiva:
- As funções cognitivas comprometidas são identificadas a partir do exame neuropsicológico;
- Um modelo teoricamente embasado define o processo cognitivo que vai ser treinado;
- As tarefas terapêuticas são exercitadas repetitivamente;
- Os objetivos são hierarquicamente organizados;
- O processo de remediado é individualizado, isto é, ajustado ao nível de performance do individuo;
- O uso de tarefas “para casa” e testes de generalização permite verificar a aplicação das melhorias de desempenho na vida quotidiana;
- As medidas de sucesso ou fracasso relacionam-se com a capacidade de vida independente e reabilitação profissional.
Qualidade de vida e saúde mental
Não é possível falar de saúde sem referir a saúde mental. Uma pessoa saudável deve poder pensar de forma clara, ser capaz de lidar com os problemas do quotidiano, poder apreciar a qualidade das boas relações com os pares e familiares. Deve igualmente sentir-se bem do ponto de vista espiritual e contribuir, de certa forma, para o bem-estar dos seus concidadãos (Quartilho, 2010 cit. in Braga, 2011).
Quando se fala em saúde mental, menciona-se uma parte integrante do conceito geral de saúde, ou seja, um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não somente a ausência de doença ou enfermidade (Quartilho, 2010 cit. in Braga, 2011).
Como se trata de algo mais do que a ausência de doença mental, é como um elemento positivo, um recurso com valor intrínseco, um bem importante para saúde física bem como para a Qualidade de Vida (QV), um fundamento universal de bem-estar individual e uma condição fundamental ao funcionamento adequado das pessoas da comunidade, independentemente de fatores geográficos ou culturais (Quartilho, 2010 cit. in Braga, 2011).
Verifica-se, geralmente uma tendência para percecionar a saúde mental como um atributo individual, de acordo com uma orientação que concede prioridade a fatores psicológicos proximais, e desvaloriza a importância de outros aspetos quer sociais quer estruturais. Contudo, as condições de trabalho, o rendimento salarial, o estatuto educacional e a qualidade das relações interpessoais, são fatores que também são fulcrais a uma saúde mental positiva (Quartilho, 2010 cit. in Braga, 2011).
Uma saúde mental positiva aparece, desta forma, associada ao conceito de Qualidade de Vida. Este último alcançou uma crescente importância no mundo contemporâneo e em diversas vertentes, tendo despertado o interesse da comunidade científica e também da comunidade em geral (Pereira, 2007 cit. in Braga, 2011).
Segundo Panzini, Rocha, Bandeira e Fleck (2007), não existe unanimidade na literatura face ao conceito de QV e opinião de Fallowfield (1990), este conceito adota diferentes significados em diferentes épocas e contextos (Pedro, 2007 cit. in Braga, 2011). Segundo a definição da Organização Mundial de Saúde (OMS), o conceito de qualidade de vida corresponde à ―perceção do indivíduo sobre a sua posição no contexto da cultura e do sistema de valores em que vive, relativamente aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações pessoais. (WHOQOL Group, 1994, cit. in Braga, 2011).
Por Soares (2006, p. 49), a QV ―é entendida como um juízo subjetivo do grau de satisfação e bem-estar pessoal, associado a indicadores objetivos biológicos, psicológicos e comportamentais, mas que traduzam a perceção dos próprios doentes”. Ou seja, resume-se a um estado de saúde percecionado pelas próprias pessoas relativo às dimensões biológica, psicológica e social (Soares, 2006 cit. in Braga, 2011).
Por sua vez, Opara, Jaracz & Brola (2010) definiram QV como um constructo multidimensional que abarca pelo menos três domínios: físico, psicológico e social. Atualmente sabe-se que, pessoas com doenças crónicas têm uma incidência muito mais elevada de depressão e ansiedade comparativamente com a população em geral. A depressão em pessoas com condições médicas crónicas aumenta a prevalência de problemas físicos e sintomas