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O espelho por trás da dança movimento terapia

que é preciso para se ser um terapeuta de DMT.

RESENHA HISTÓRICA

Nas palavras de Peto (2000) a dança “É uma das raras atividades humanas em que o homem se encontra totalmente engajado – corpo, espírito e coração” (p.35). A utilização do movimento do corpo, especialmente ao que se denomina comumente de dança, é considerada como uma ferramenta de «catarse» e uma forma de cura tão antiga quanto a dança em si (Fischman, 2001; Ritter & Graff, 1996; Rodríguez, 2009; Vieira, 2008). Dado os homens da pré-história não possuírem uma comunicação verbal definida e utilizarem a dança como meio de comunicação, esta é considerada uma das formas mais antigas de expressão de sentimentos, intenções e de convívio em sociedade (Painado & Muzel, 2012; Peto, 2000; Rodríguez, 2009;Vieira, 2008).

De uma forma natural de manifestação do ser humano, a dança persegue um percurso académico e sistematizado, dando origem a uma forma de arte estruturada e estética que não observa como o movimento pode afetar a pessoa que dança (Fischman, 2001; Painado & Muzel, 2012; Rodríguez, 2009; Vieira, 2008). A DMT surge assim da necessidade de recuperar o processo criativo não-verbal como um canal de comunicação e expressão no crescimento da pessoa, assumindo como princípio que o corpo e a mente são indissociáveis, existindo entre os mesmos uma forte conexão (Federman, 2011; Painado & Muzel, 2012; Rodríguez, 2009; Santana, 2009). Além disso, é ainda tido em conta o paralelismo estabelecido entre a seleção do movimento pela pessoa com as escolhas que faz na sua vida. Deste modo, a DMT trabalha no sentido de ampliar o repertório de movimentos da pessoa, alargando o seu leque de hipóteses cognitivas e emocionais, bem como incrementando a sua capacidade de adaptação na vida (Santana, 2009).

A génese da DMT é devida à cooperação entre psiquiatras e profissionais da dança moderna por volta dos anos 40 (Rodríguez, 2011; Santana, 2009). Esta tem como sustentação o expressionismo que consiste na curiosidade relativamente à dança não só enquanto uma forma de expressão, como também uma forma de alcançar as emoções. É num hospital psiquiátrico com doentes crónicos em estado grave e que apenas comunicavam não verbalmente (mais especificamente com doentes esquizofrénicos) que, Marian Chace (uma bailarina moderna) utiliza pela primeira vez, em 1942, a DMT enquanto prática clínica (Fischman, 2001; Viegas, 2008). Vista como a «mãe» da DMT e focalizando-se na formação dos relacionamentos interpessoais, esta desenvolve uma metodologia própria e considera que «fazendo uso de formas básicas de comunicação não-verbal, a Dança Movimento Terapia oferece ao indivíduo uma forma de se relacionar com o meio ou pessoas com as quais cortou ligações, pelos padrões da sua doença» (Chace, s.d, cit. in Viegas, 2008).

De acordo com Rodríguez (2011), o trabalho desenvolvido por Marian Chace pode ser abreviado a quatro aspetos essenciais:

1) Relação terapêutica em movimento: terapeuta está envolvido no movimento através do espelhamento empático ou reflexão – terapeuta ocupa o lugar emocional do cliente e tenta dar um sentido ao movimento executado pelo cliente, ajudando-o assim a dar valor à sua experiência imediata (diferente do que se conhece como mímica);

2) Narração verbal: utilizada para refletir acerca de determinado processo terapêutico (individual ou em grupo) à medida que este decorre;

3) Ritmo: via para ordenar a manifestação de pensamentos e emoções;

4) Dança: equiparada a uma terapia de grupo, funcionando como meio que fornece a conexão grupal.

Na opinião de Santana (2009), o aparecimento da DMT foi facilitado por três acontecimentos históricos:

1) Expressionismo (início do século XX): surge a dança moderna que procurou substituir a rigidez com que se encarava a dança pela espontaneidade, autenticidade e consciência corporal;

2) Pesquisa em movimento: Rudolf Laban produziu um dos primeiros sistemas de anotação de movimento na sequência de uma profunda observação e análise do mesmo e, juntamente com Warren Lamb, deu origem ao método de Análise do Movimento de Laban (LMA);

3) Origem da psicanálise: que para além de trazer o interesse pela mente e pelo inconsciente, também chamou à atenção para o corpo e para o criativo (e.g., Freud, Jung e Adler) (Fischman, 2001; Santana, 2009).

Ao longo do desenvolvimento da DMT foram surgindo diferentes abordagens fundamentais para a sua compreensão e teorização (Bräuninger, 2014; Federman, 2011):

A primeira, designada por “Chace”, adaptou conceitos utilizados na dança como a ação do corpo, o simbolismo, a empatia cinestésica e a atividade rítmica grupal, unindo-os numa terapia cujo intuito seria promover a expressão e a comunicação. De acordo com esta perspetiva, o repertório emocional dos movimentos dos clientes é empaticamente espelhado para estabelecer conexões empáticas e promover a reflexão empática (“Espelhamento”).

A segunda abordagem, a “Dança Terapia de Orientação Psicodinâmica”, caracteriza-se por conceitos e teorias psicológicas aprofundados. Esta abordagem é baseada na atividade de corpo-mente que integra tanto a improvisação do movimento como uma análise psicodinâmica das experiências, tal como se verifica nas relações do movimento no grupo. Nesta linha considera-se que, quando aplicada à DMT de orientação psicodinâmica, a improvisação na dança expressa sentimentos e estados inconscientes (podendo ser equiparada à associação livre psicanalítica) e à imaginação ativa que contém um significado concreto e simbólico.

A abordagem que se denomina por