Relativamente ao nível de escolaridade da amostra, a maioria das mulheres obesas (40,6%, N=13) têm o 2º ciclo do ensino básico, 25% (N=8) o 3º ciclo do ensino básico, 18,8% (N=6), o 1º ciclo do ensino básico, 12,5% (N=4) o ensino secundário e apenas 3,1% (N=1) o ensino superior. Enquanto nas mulheres normativas a maioria (46,9%, N=15) possui o 3º ciclo do ensino básico, 28,1% (N=9) o ensino secundário, 21,9% (N=7) o 2º ciclo do ensino básico e somente 3,1% (N=1) tem o ensino superior.
Todos os sujeitos são de nacionalidade portuguesa.
No que se refere ao número de filhos, as mulheres obesas apresentam uma média de 1,69 filhos enquanto as mulheres normativas apresentam uma média de 1,59 filhos. Por sua vez, face ao peso, existe uma diferença de aproximadamente 30 quilos entre ambas as populações, sendo a média das mulheres obesas de 92,91 kg e a das mulheres normativas de 61,41 kg, que se distribuem por uma altura média de 1,59 cm nas mulheres obesas e de 1,62 cm nas mulheres normativas.
Quadro 3: Características específicas de ambas as populações
Como critério de inclusão na amostra estabelecemos que a população obesa como a normativa não poderia apresentar doença física ou psiquiátrica.
Objectivo do Estudo
A oportunidade de acompanhar de perto um grupo de mulheres obesas a usufruir de apoio psicoterapêutico, suscitou em nós uma enorme vontade de averiguar se os indivíduos obesos estão mais susceptíveis ao desenvolvimento de sintomatologia depressiva e sintomas psicopatológicos bem como ao desenvolvimento de uma baixa auto-estima e um baixo auto-conceito comparativamente com a população normativa.
Tivemos, então como questão principal a seguinte: “Existem diferenças estatisticamente significativas no que se refere à sintomatologia depressiva, auto-estima tal como em relação aos sintomas psicopatológicos e o auto-conceito no que concerne às mulheres obesas comparativamente com as mulheres normativas?”
Caracterização dos Instrumentos
Questionário Sócio-demográfico: Foi elaborado para esta investigação um questionário sócio-demográfico com nove questões fechadas, acerca da idade, escolaridade, peso, altura, localidade/residência, profissão, nacionalidade, estado civil e número de filhos de cada um dos sujeitos de ambas as amostras em estudo.
Inventário de Avaliação Clínica da Depressão (Vaz Serra, 1993)
O “Inventário de Avaliação Clínica da Depressão” (IACLIDE) é um instrumento de auto-avaliação que tem como objectivo detectar a presença e a gravidade de um quadro clínico depressivo (Almeida, Simões & Gonçalves, 1995). Esta escala foi elaborada tendo como base a ideia de que uma depressão varia em função do número de sintomas assinalados e da intensidade que possam atingir (Vaz Serra, 1994), quando se responde a cada uma das 23 questões em escala de tipo Likert cujos resultado global varia entre 0 (inexistência de qualquer perturbação) e 4 (gravidade máxima atingida pela queixa), estando cada um dos sintomas subdivididos em cinco questões que traduzem uma gravidade progressivamente crescente, tendo implícita a possibilidade de uma única escolha (Vaz Serra, 1994).
As questões do Inventário de Avaliação Clínica da Depressão (IACLIDE) dizem respeito a perturbações de quatro tipos distintos, alterações biológicas, sintomas cognitivos, modificação das relações inter-pessoais e supressão ou alteração do desempenho de tarefa (Almeida, Simões & Gonçalves, 1995). Estes quatro tipos de perturbações têm a ver com a relação que o indivíduo deprimido estabelece com o organismo, consigo próprio como pessoa, com os outros e com o trabalho (Vaz Serra, 1994).
A pontuação global obtida no inventário designa os graus de gravidade da depressão e a divisão entre não deprimido e deprimido (Almeida, Simões & Gonçalves, 1995), apresentando diferentes graus de severidade: depressão leve (indivíduo perturbado pelos sintomas, com dificuldade em continuar com o seu trabalho e actividades sociais usuais, mas não deixa de funcionar completamente), depressão moderada (o indivíduo tem normalmente uma dificuldade considerável em continuar com as suas actividades sociais, de trabalho ou domésticas) e a depressão grave (a pessoa sente-se incapaz, a não ser de forma muito limitada, em continuar com as suas actividades sociais, de trabalho ou domésticas) (Vaz Serra, 1994).
Escala de Auto-estima de Coopersmith (Coopersmith, 1989)
A Escala Auto-Estima de Coopersmith é uma tradução e adaptação do Coopersmith Self-Esteem Inventory Short Form, contendo 25 perguntas fechadas (Coopersmith, 1967).
É um instrumento com uma abordagem da auto-estima em áreas relacionais específicas da vida, onde se pretende avaliar o sentimento de si, em termos valorativos e de competência, na família e na sociedade. Assim, a soma dos itens determina indicadores de maior ou menor auto-estima (Coopersmith, 1967).
Esta escala define a auto-estima como a avaliação que o indivíduo faz, e que geralmente mantém, de si mesmo, e expressa uma atitude de aprovação ou desaprovação, indicando o grau em que se considera capaz, importante e valioso (Okazaki & Coelho, 2005) sendo uma experiência subjectiva que o indivíduo expõe aos outros por relatos verbais e expressões públicas de comportamentos (Gobitta & Guzzo, 2002).
Symptom Cheklist – 90 – SCL – 90 (Derogatis, 1975)
A Symptom Cheklist – 90 – SCL – 90, foi criada pela National Computer Systems Inc., sendo um inventário multidimensional de auto avaliação de sintomas, delineado para avaliar um vasto espectro de problemas psicológicos e sintomas psicopatológicos (Derogatis, 1994).
A Escala de Avaliação de Sintomas (SCL – 90), tal como Derogatis (1994) refere é constituída por 90 itens de auto relato que pretendem reflectir o padrão psicológico dos respondentes. Sendo que cada item deve ser respondido segundo uma escala de 5 pontos, que varia entre nenhuma manifestação até extremamente presente (Derogatis, 1994).
No que respeita aos itens da escala Derogatis (1994) menciona que compõem 9 dimensões primárias de sintomas: somatização (S), obsessividade compulsividade (OC), sensibilidade interpessoal (SI), depressão (D), ansiedade (AN), hostilidade (H), ansiedade fóbica (AF), ideias paranóides (IP) e psicoticismo (PS).
Por sua vez, os índices globais são denominados de: Índice Global de Severidade (IGS), Índice de Distúrbio de Sintomas Positivos (IDSP) e Total de Sintomas Positivos (TSP) (Laloni, 2001). Sendo que a função de cada uma destas medidas globais é transmitir numa pontuação simples o nível ou intensidade de um distúrbio psicológico de um indivíduo (Derogatis, 1994).
Por fim importa referir que a interpretação clínica do perfil obtido pela SCL-90 oferece uma diversa gama do perfil sintomático multidimensional. Contudo para a comparação com uma avaliação unidimensional é necessário a utilização apenas de uma subescala (Derogatis, 1994).
Inventário Clínico de Auto-conceito (Vaz Serra, 1985)
O Inventário Clínico de Auto – Conceito (ICAC), segundo Vaz Serra (1988) é uma escala unidimensional de tipo Likert, elaborada com o propósito de medir os aspectos emocionais e sociais do auto – conceito (Vaz Serra, 1988). É um instrumento de auto – avaliação, que exige um grau mínimo de escolaridade para ser respondido (Almeida, Simões & Gonçalves, 1995). Assim, Almeida, Simões & Gonçalves (1995) referem que esta escala procura medir a maneira de ser habitual do indivíduo e não o estado em que transitoriamente se encontra.
Deste modo e segundo o mesmo autor é um instrumento de medida que pretende avaliar aspectos emocionais e sociais do auto – conceito. Assim é constituído por 20 questões, sendo que cada uma delas é cotada de 1 (não concordo) a 5 (concordo muitíssimo), classificadas umas vezes numa ordem directa e outras, inversa, podendo a nota global ir de um mínimo de 20 a um máximo de 100 (Almeida, Simões & Gonçalves, 1995). Destacamos como vantagens o facto de ser breve e levar pouco tempo a ser respondido.
Concluímos assim, e segundo Fitts (1972), que quanto pior for o auto-conceito, pior será o ajustamento do indivíduo e mais propício estará a perturbações de cariz emocional.
Resultados
Pontuações do instrumento IACLIDE
Nos IACLIDE (quadro 4) verificou-se que 28,1% (N = 9) da população obesa apresentou valores indicadores de sintomatologia depressiva moderada, 25% (N = 8) valores indicadores de sintomatologia depressiva leve, 25% (N=8) indicadores de depressão grave e 21,9% (N=7) valores indicadores de ausência de sintomatologia depressiva. Por sua vez a população normativa não apresentou valores indicadores de sintomatologia depressiva moderada ou grave, sendo que apenas 12,5% (N = 4) apresentaram valores indicadores de sintomatologia depressiva leve.
Quadro 4: Resultados do IACLIDE
Relativamente aos sintomas apresentados no quadro 5 (sintomatologia depressiva), os biológicos são os mais significativos nas mulheres obesas, uma vez que 19 (59,4%) mulheres obesas apresentaram sintomas biológicos clinicamente significativos comparativamente com a maioria (96,9%, N=31) das mulheres normativas que apresentam sintomas biológicos normativos. Por outro lado, os sintomas cognitivos são maioritariamente normativos quer na população obesa (N=22; 68,8%) quer na população normativa (N=32; 100%).
Quadro 5: Resultados dos Sintomas do IACLIDE
No que se refere aos sintomas interpessoais, 23 (71,9%) mulheres obesas e 32 (100%) das mulheres normativas apresentam sintomas normativos. Por fim temos os sintomas do desempenho da tarefa, que nos indicam que a maioria das mulheres obesas (N=19; 59,4%) e das mulheres normativas (N=32; 100%) apresentam valores indicadores de sintomas normativos.
No âmbito das incapacidades, apresentadas no quadro 6, que a sintomatologia depressiva desenvolve destacamos que no que se refere às incapacidades para a vida em geral nas mulheres obesas, metade (N=16; 50%) encontra-se ligeiramente, moderadamente e marcadamente incapacitada, enquanto 100% (N=32) das mulheres normativas encontram-se normalizadas.
Quanto às incapacidades para o trabalho 46,9% (N=15) das mulheres obesas encontram-se ligeiramente incapacitadas para o trabalho, comparativamente com 71,9% (N=23) das mulheres normativas que nos indicaram que de modo algum se encontram incapacitadas para o trabalho.
Quadro 6: Resultados das Incapacidades do IACLIDE
Na incapacidade para a vida social, os dados referem-nos que 37,5% (N=12) encontram-se moderadamente incapacitadas enquanto com os mesmos valores as mulheres normativas mencionam que se encontram de modo algum incapacitadas para a vida social.
Por último destacamos a incapacidade para a vida familiar, em que a maioria (37,5%; N= 12) das mulheres obesas referem que de modo algum se encontram incapacitadas sendo que 93,8% (N=30) das mulheres normativas referem o mesmo.
Pontuações do instrumento Escala de Auto-Estima de Coopersmith
Na Escala de Auto-Estima de Coopersmith (quadro 7) 68,8% de população obesa (N = 22) apresentaram baixa auto-estima, 21,9% (N = 7), valores indicadores de média auto-estima e somente 9,4% (N = 3) valores de elevada auto-estima.
Por sua vez na população normativa constatou-se que 75% (N =24) das mulheres evidenciaram valores indicadores de média auto-estima, 21,9% (N = 7) valores indicadores de elevada auto-estima, sendo que apenas 3,1% (N= 1) apresentam valores indicadores de baixa auto-estima.
Quadro 7: Resultados da Escala de Auto-Estima de Coopersmith
Pontuações do instrumento SCL-90
Nos resultados do instrumento SCL-90 (quadro 8) verificou-se que relativamente ao factor somatização 87,5% (N = 28), a população obesa apresenta elevada somatização comparativamente com 43,8% (N = 14) dos normativos que apresentaram baixa somatização.
Quanto ao factor obsessão do SCL-90 (quadro 8) 81,2% (N = 26) da população obesa apresentou valores elevados níveis de obsessão comparativamente com 68,8% (N = 22) da população normativa que apresentaram valores indicadores de baixos níveis de obsessão.
Quanto ao factor sensibilidade interpessoal do SCL-90 (quadro 8) 84,4% (N = 27) da população obesa apresentou elevados níveis de sensibilidade interpessoal comparativamente com 75% (N = 24) da população normativa que apresentou baixos níveis de sensibilidade interpessoal.
No factor depressão do SCL-90 (quadro 8) 84,4% (N = 27) da população obesa apresentou elevada sintomatologia depressiva e 56,2% (N = 18) da população normativa apresentou baixa sintomatologia depressiva.
Nos resultados do factor ansiedade do SCL-90 (quadro 8) 78,1% (N = 25) da população obesa apresentou elevada sintomatologia ansiógena e 65,6% (N = 21) da população normativa apresentou baixa sintomatologia.
Quanto ao factor hostilidade do SCL-90 (quadro 8) apurou-se que 81,2% (N =26) da população obesa apresentou elevados níveis de hostilidade relativamente a 75% (N =24) da população normativa que apresentou baixos níveis de hostilidade.
Quanto ao factor ansiedade fóbica do SCL-90 (quadro 8) 75% (N = 24) da população obesa apresentaram elevada sintomatologia fóbica comparativamente com 78,1% (N = 25) da população normativa que apresentou baixa sintomatologia fóbica.
Quanto ao factor ideação paranóide do SCL-90 (quadro 8) 78,1% (N =25) da população obesa apresentou valores indicadores de elevados níveis de ideação paranóide compatados com 75% (N = 24) da população normativa que apresentaram baixos níveis de ideação paranóide.
Por último, quanto ao factor psicoticismo do SCL-90 (quadro 8) 84,4% (N = 27) apresentaram elevados níveis de psicoticismo relativamente com 68,8% (N = 22) da população normativa que apresentaram valores indicadores de baixos níveis de psicoticismo.